16 de maio de 2007

Trancar pessoas em manicômios fere direitos humanos, diz coordenador de saúde

Brasília – A reforma psiquiátrica foi um dos temas discutidos hoje (15) na Semana Nacional de Luta Manicomial, que ocorre na Universidade de Brasília (UnB). A assistência a pessoas com problemas psíquicos e a inclusão na sociedade dessa parcela da população também fizeram parte do debate.

Na opinião do coordenador de Saúde Mental da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Renato Canfôra, trazer a discussão para a sociedade é fundamental, porque saúde mental também faz parte dos direitos humanos.

"As pessoas portadoras de um transtorno mental têm direito a ter uma atenção adequada de saúde. Trancá-las em um presídio, ou seja, em um manicômio, é o mesmo que ferir os direitos fundamentais de uma pessoa. A luta pela reforma psiquiátrica é a luta também pelo respeito à diferença".

Segundo o Ministério da Saúde, aproximadamente 40 mil pessoas estão internadas em hospitais psiquiátricos no país. Ela fazem parte da parcela de 5 milhões de brasileiros que têm algum distúrbio psíquico considerado grave, como casos de psicose e autismo severo.

Uma das alternativas de tratamento debatidas no encontro foi a ampliação dos Centros de Apoio Psicossocial (Caps). Hoje, são cerca de mil unidades, que prestam atendimento clínico e social tanto aos pacientes quanto aos familiares. Em Brasília, por exemplo, a média de atendimento é de 200 famílias por mês.

Para a coordenadora do programa De Volta Pra Casa, do Ministério da Saúde, Maria da Anunciação Alves, é preciso mudar o quadro da saúde psíquica no Brasil. Isso, acrescenta, só é possível com a "reconstrução do paciente na vida fora do hospital psiquiátrico", afirmou, acrescentando que o trabalho em equipe é a base para a mudança no atendimento da saúde mental.

Há três anos, Mario Lúcio perdeu a mãe. A partir de então, passou a ingerir bebidas alcóolicas todos os dias. "Minha família não quis saber de mim e cheguei até a morar na rua", conta. Por causa dos problemas com o álcool, se internou várias vezes em centros de reabilitação até chegar ao Caps. Foi ali, conta Mario Lúcio, que encontrou a motivação para voltar a ter uma "vida normal".

Ele vai a uma das unidades do Rio de Janeiro com freqüência, muitas vezes, semanalmente. No centro, encontra-se com terapeutas, troca experiências com outros freqüentadores e desenvolve atividades artísticas. Foi assim que descobriu a paixão pelo cinema, cujo primeiro fruto é o curta-metragem De Volta Pra Casa: Uma Experiência Filmada.

O filme será exibido esta semana na UnB como parte da programação da semana antimaniomial. Até sexta-feira (18), serão apresentados outros filmes e realizados debates e atividades sobre a questão.

Fonte: Agência Brasil