23 de junho de 2007

Jornal O Povo: Terapia no cavalo ajuda 10 alunos autistas

EQUOTERAPIA

Terapia no cavalo ajuda 10 alunos autistas

Lucinthya Gomes
Especial para O POVO

Autistas assistidos pela Casa da Esperança participam de projeto de equoterapia, que é uma modalidade de terapia com cavalos. O trabalho é desenvolvido em parceria com Cavalaria da Polícia Militar do Ceará

No primeiro contato, a sensação foi de medo. Medo do cavalo, medo de montar, medo de cair. Mas, passado pouco mais de um mês da equoterapia (modalidade de terapia com cavalos), autistas assistidos pela Casa da Esperança já apresentam sinais dos benefícios. À medida que o medo inicial é vencido, por meio de vários métodos de aproximação com os cavalos, eles têm oportunidade de melhorar as relações sociais, a ansiedade e a participação nas atividades. A modalidade de terapia, que foge da rotina, beneficia também o equilíbrio, a coordenação motora e a postura.

O trabalho é resultado de parceria firmada entre a Casa da Esperança e a Cavalaria da Polícia Militar do Ceará, sendo realizado às terças e quintas-feiras pela manhã. Por enquanto, apenas dez dos mais de 250 alunos da Fundação estão participando. A idéia é expandir o projeto, possibilitando a equoterapia para outros alunos. Conforme o equitador, capitão Daíso Rodrigues Filho, as conquistas de um trabalho realizado com autistas são recompensadoras. Observa-se o caso de alunos que já têm domínio do cavalo, compreendem os sinais emitidos por ele, fazem conversões, como Sávio Gabriel de Queiroz, de 11 anos.

“Você vê que eles não são limitados como a gente imagina. Quando você vê o retorno, é uma conquista. Não foi tão difícil”, afirma o capitão. De acordo com ele, cada criança ou jovem reage de um modo diferente às atividades. Everton Lima, 21, que também é autista, é um dos jovens que participam das aulas de equitação e sente os resultados. “Vai cair, vai cair”, temia, enquanto montava no cavalo. Mas bastou o animal dar alguns galopes, para ele se sentir mais à vontade.

Nas primeiras aulas, Everton, sempre pedia a presença do equitador, para poder se apoiar e se sentir mais seguro. Agora, ele já fica sozinho por alguns instantes. “Logo no primeiro dia, ele aceitou subir no cavalo, mesmo que com um pouquinho de medo. Ele está melhorando muito, está trabalhando a postura”, diz a mãe, Arlinete de Lima, 56. Mas, os benefícios da equoterapia já são percebidos também no comportamento de Everton. “Eu estou muito feliz, porque tem melhorado a socialização, a interação com as pessoas. A comunicação dele está muito melhor”, comemora.

A terapeuta ocupacional da Casa da Esperança, Ulânova Coelho, que coordena o setor de estimulação neurosensorial da Fundação, afirma que as crianças escolhidas apresentam agitação considerável e têm alguma dificuldade de executar as atividades propostas. “Com esse projeto, eles estão mais calmos, participam melhor das atividades da Casa, do contexto familiar. A equoterapia traz benefícios para a questão social, para o vínculo, interação e atividades de grupo. A ansiedade diminui consideravelmente”, explica. Segundo ela, o maior objetivo é que cada criança conquiste a independência, podendo montar sozinhas.

SOBRE EQUOTERAPIA
http://www.equoterapia.org.br

EMAIS

A equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza cavalos, proporcionando abordagem interdisciplinar e trazendo benefícios na área da saúde, educação e equitação, importantes para o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas portadoras de deficiência.

Segundo o equitador, capitão Daíso Rodrigues Filho, o primeiro passo para driblar o medo é adotar métodos de aproximação do jovem com o cavalo. Eles dão alimentação, fazem carinho, tocam no pêlo e conduzem os animais.

Com poucas aulas, os alunos já estão bem familiarizados. “No começo eles não querem se aproximar. Mas é possível acompanhar a evolução da criança. Eles chegam correndo, fazem questão de montar, chamam os cavalos pelo nome”, comemora.

SOBRE O AUTISMO

O autismo é um transtorno invasivo do desenvolvimento infantil (TID) que afeta uma em cada mil crianças nascidas vivas no mundo. As crianças são na sua maioria do sexo masculino.

Os problemas que compõem o espectro do autismo geralmente se manifestam antes do terceiro ano de vida e afetam a capacidade de comunicação (fala, gestos e níveis não verbais de comunicação), o modo de brincar, o comportamento e a socialização da criança, que geralmente se isola e não participa de brincadeiras imaginativas com outras crianças.

O diagnóstico deve ser feito por um médico o mais precoce possível, para dar início às intervenções terapêuticas e pedagógicas adequadas e aumentar as chances de uma vida feliz e produtiva no futuro.

Fonte: Jornal O Povo