9 de dezembro de 2007

Saúde mental: Ministério culpa prefeituras

O Ministério da Saúde informou que recebeu as críticas da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e reconhece que faltam leitos psiquiátricos em hospitais gerais. O ministro José Gomes Temporão pretende receber os dirigentes da entidade para aprofundar o debate e pedir ajuda para a ampliação de leitos. No entanto, o Ministério discorda que os atendimentos comunitários sejam precários e culpa as prefeituras pela desassistência no setor. Alguns governos municipais estariam resistindo ao novo modelo de psiquiatria adotado no país.

Integrante do movimento antimanicomial, o coordenador de saúde Mental, Pedro Gabriel Delgado, disse que concorda com parte das críticas, como a necessidade de leitos e de aumento da rede de CAPs, mas defendeu o modelo adotado e culpou as prefeituras pela inadequação da rede de atendimento.

– Há resistência ao novo modelo. Muitas prefeituras precisam fazer o dever de casa. Nosso diagnóstico mostra que melhoramos nos municípios de pequeno e médio portes. Nas grandes cidades falta maior articulação do sistema e eficácia nos serviços extra-hospitalares – disse o coordenador, que é sanitarista especializado em saúde mental.

De acordo com Delgado, o Ministério da saúde adota duas linhas teóricas para a chamada "reforma psiquiátrica":

– O objetivo é mudar o modelo de assistência para ampliar o acesso à saúde mental. O segundo ponto é fazer com que os tratamentos sigam diretrizes modernas, comunitárias e de inclusão social, com combate ao estigma, como um produto da autonomia do paciente. Tudo isso com o aporte da Lei 10.216 – disse o coordenador de saúde Mental do Ministério da Saúde.

De acordo com Delgado, o estudo da ABP foi bem recebido pelo governo.

– Coincidimos em alguns pontos, como no atendimento comunitário, na atenção primária e na necessidade de ampliação dos serviços em hospitais gerais. Agora, não aceitamos montar hospitais psiquiátricos. Precisamos aumentar os CAPs e para isso as prefeituras têm que fazer o dever de casa.

O coordenador argumentou que as críticas precisam ser decompostas em análises mais refinadas do setor. Ele citou que a cidade de Campinas é um exemplo de bom atendimento em saúde mental. A cidade, no interior paulista, é considerada modelo em saúde mental desde o início da luta antimanicomial. Campinas hoje é uma das poucas cidades com CAPs de funcionamento 24 horas e psiquiatra de plantão no serviço de ambulâncias, cujo sistema é vinculado ao atendimento de emergência da Polícia Militar. Nos casos de surto, os pacientes não são levados para a prisão, mas para o socorro psiquiátrico.

Fonte: O Globo