16 de fevereiro de 2008

Para pesquisador, SUS precisa de tecnologia e mudanças na gestão

Brasília – O governo brasileiro precisa investir em tecnologia para melhorar a gestão de recursos na área da saúde e permitir que o Sistema Único de Saúde (SUS) seja realmente implantado no país. A avaliação é do pesquisador Leandro Fraga, da Fundação Instituto de Administração (FIA) da Universidade de São Paulo (USP), que divulga neste mês os resultados de um estudo comparativo sobre a saúde em seis países da América Latina.

Segundo ele, o levantamento mostrou que a falta de dados sobre pacientes e procedimentos, e a impossibilidade de integrar informações de diferentes unidades de saúde e esferas de governo, inviabilizam uma gestão eficiente do sistema e a otimização dos recursos sempre escassos.

“O SUS é um conceito muito interessante, mas precisa ser efetivamente implantado. É preciso que seja de fato um sistema único de saúde e não um conjunto de fragmentos de sistemas que estão sob a guarda de uma entidade central, mas que na realidade não se comunicam”, afirmou.

Em entrevista à Agência Brasil, Fraga explicou que, por ser concebido como uma rede, o sistema não pode funcionar a contento sem ferramentas tecnológicas que permitam a interligação de seus vários pontos. Ele ressaltou que outros países podem obter bons resultados sem depender tanto da tecnologia da informação, mas no Brasil ela é imprescindível por causa extensão territorial do país e da população numerosa.

Para ele, é preciso mudar os conceitos de gestão e “ousar”, investindo em tecnologia a fim de economizar recursos e oferecer melhores resultados aos pacientes. Opções tecnológicas existem, disse, e onde houve decisão de implantá-las o país já comprovou os resultados positivos, como no sistema de arrecadação que funciona com grande grau de eficiência.

“Os indivíduos estão todos cadastrados com seu CPF [Cadastro de Pessoas Físicas]. A Receita Federal é capaz de saber dados com um grau de detalhamento muito significativo sobre cada cidadão brasileiro. Seria muito bom que a ficha de saúde deles pudesse estar disponível também”, apontou.

Segundo Fraga, avanços na gestão, como protocolos de tratamento informatizados, possibilitariam, por exemplo, a destinação de mais recursos ao indivíduo para tratamento de fases iniciais das doenças, o que evitaria a evolução delas, trazendo custos maiores para o paciente e para o Estado.

“É óbvio que fazer diagnóstico precoce é sempre melhor. Mas a questão é: o quanto vale a pena investir a mais para obtê-lo? Em troca de que percentual de economia mais adiante? Medir essa coisas não é evidente e os processos disponíveis hoje não permitem isso. Os técnicos estão reféns da falta de informações”, disse.

O pesquisador ressaltou que, além da melhoria na gestão, o estudo apontou a necessidade de ampliar o volume de recursos públicos para a saúde, a fim de enfrentar o processo de envelhecimento da população. Mas lembrou que até para definir em quanto o investimento deve crescer, é preciso saber o quanto seria possível ganhar com uma gestão mais eficiente.

Procurada diariamente durante uma semana, a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde informou que não havia gestores disponíveis para comentar os problemas de gerenciamento e investimentos apontados no estudo da USP.


Fonte: Agência Brasil